A Presença Negra na Brasital e nas Vilas Operárias

A partir de 1919, temos a implantação da Brasital, indústria que marcou a vida da comunidade por décadas, como maior empregadora e responsável pelo surgimento de vilas operárias e de todo um modo de vida, com profundas raízes na cultura local.

 

O trabalho fabril empregava fortemente a mão de obra feminina. Muitas das primeiras gerações de mulheres negras vieram do campo, de cidades vizinhas, e aqui fincaram raízes. Das casas de pau a pique, migram para as vilas operárias, onde nascem filhos e filhas, que repetem o ciclo dos turnos fabris por décadas. Suas memórias retratam tanto as angústias do cotidiano fabril, quanto às divertidas vivências infantis na vila operária.

O Trabalho Como Experiência Cultural

 O Trabalho do ponto de vista do ser humano é fruto de sua aventura sobre a terra, em busca de uma vida melhor que possibilite que homens e mulheres possam melhorar suas vidas e de suas famílias. É uma busca individual e coletiva, que possibilita uma experiência cultural. 

As comunidades africanas eram em seu inicio nômades e se distribuíam no continente africano produzindo espaços de vida sob um cotidiano que experimentava uma divisão do trabalho vivenciado na partilha e na comunhão. O trabalho para este povo era a uma forma de reprodução com autonomia, pois estava em suas mãos os meios de produzir, que compunha toda a organização social da época. 

Da forma de trabalhar destes povos  negros emergiram uma forma de agregar seus pares por meio de comemorações, festas e celebrações tais como ocorriam no final das colheitas, das grandes caçadas, das guerras, e por conseguinte, suas religiões, suas experiências espirituais e todas suas místicas e mitos para explicarem a origem do mundo e sua  manutenção.  

Na sociedade contemporânea com a nova divisão internacional do trabalho e com a migração do negro para outros continentes ora de forma compulsória, ora de forma voluntária, este passou a fazer parte de múltiplas experiências culturais que o consolidou como parte integrante da sociedade ocidental. 

Isso se percebe na segunda metade do século XIX , quando a cidade de Salto se caracteriza como uma região tipicamente fabril, atraindo grupos familiares, especificamente negros recém-saídos da escravização, muitos da zona rural, que vinham em busca de melhores condições de vida. Aliada a força da natureza com o “salto das águas” ,como descrito pelos diversos viajantes que aqui passaram, como os franceses Hércules Florence e Auguste de Saint-Hilaire  escritor luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar, o florescimento da indústria fez com que a Cidade de Salto se tornasse um polo atrativo para que os moradores do campo viessem para o local.

A vinda de inúmeros grupos familiares favoreceu a organização de experiências culturais específicas na região, experiências essas contadas e recontadas pelos mais velhos que guardam em suas memórias as angústias do cotidiano fabril. 

Referências

B , Amadou Hampaté. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph. (Coord.). História geral da África: volume 1: metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática, 1982.

FLORENCE, Hercules. Viagem fluvial do Tietê ao amazonas de 1825-1829. Sp. Ed. Melhoramentos,1948.

KI-ZERBO, Joseph. Introdução geral. In: KI-ZERBO, Joseph (Coord.). História geral da África. São Paulo: Ática, 1982.

ZALUAR, Emilio. Peregrinação pela província de São Paulo. SP. Ed.Cultura,1943.

ZEQUINI, Anicleide. O quintal da fábrica. Editora Fapesp/Annablume, 2004.

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