Receitas tradicionais da culinária negra saltense

Nas histórias das famílias negras, a cozinha ocupa um espaço central. É um espaço sagrado, onde a força feminina se mostra presente. Receitas e cantigas trazidas na memória, rezas e orações de agradecimento, revelam um universo em que culinária e religiosidade se interpenetram. Aqui se engendram os sonhos, que alimentam o futuro! 

Muitos dos pratos tradicionais brasileiros têm origem banta. Sabores engendrados em África, e que chegaram até nós através dos séculos, como o angu, o quiabo e o quibebe. Aqui se misturaram à doçaria colonial, só possível na fartura de açúcar das terras brasileiras.

Conheça aqui alguns pratos da tradicional cozinha negra saltense que atestam essa rica, e deliciosa, história.

A culinarista Cidinha Santiago recolheu algumas receitas da culinária negra saltense. Delicie-se!!!



Angu

Ingredientes:

½ litro de água
1 pitada de sal
5 colheres de sopa de fubá mimoso

Modo de preparo:

Deixe a água ferver, adicione o fubá e misture rapidamente para não empelotar. Deixar cozinhar, de 30 a 50 minutos, até desgrudar da panela.

Frango com Quiabo

Ingredientes:

1 frango cortado em pedaços
3 dentes de alho amassado
1 cebola picada
2 colheres de sopa de gordura ou óleo
2 colheres de sopa de salsinha picada
½ kg de quiabos frescos
Sal á gosto

Modo de preparo:

Numa tigela tempere o frango limpo e cortado com sal e alho amassado. Numa panela, esquente a gordura e refogue o frango até dourar. Pingue algumas gotas de água para cozinhar. Depois que o frango estiver cozido, junte o quiabo, já sem a baba á mistura e deixe cozinhar por mais 5 minutos. Coloque a salsinha e sirva.

Quibebe de abóbora

Ingredientes:

1 kg de abóbora picada 

1 dente de alho amassado

1 cebola picada

1 pitada de sal

1 pitada de açúcar

2 colheres de salsinha ou cebolinha

½ xícara de óleo

 

Modo de preparo:

Em uma panela, coloque gordura ou óleo. Refogue alho, cebola e a abóbora. Pingue algumas gotas de água, deixando  a mistura cozinhar até ficar macia. Tempere com sal, açúcar e salsinha.

Bolinho de chuva

Ingredientes:

2 xícaras de chá de farinha de trigo
3 colheres de sopa de açúcar
1 pitada de sal
1 colher de sobremesa de fermento em pó
3 ovos
Óleo para fritar

Modo de preparo:

Em uma tigela, coloque a farinha, o açúcar, o sal e o fermento; faça um buraco no meio da mistura seca e adicione o leite e os ovos. Misture tudo até formar uma massa homogênea

Bolo Cascudo

Ingredientes:

2 xícaras de farinha de trigo
1 ½ xícara de chá de açúcar
1 pitada de sal
1 colher de sopa de fermento em pó
1 xícara de chá de óleo
3 ovos

1 xícara de chá de água (ou leite)
1 xícara de açúcar para finalizar dando o efeito cascudo

Modo de preparo:

Em uma tigela coloque todos os ingredientes secos (farinha de trigo, açúcar, fermento e o sal) e depois junte os ovos, a água (ou leite) e o óleo. Misture tudo e leve para assar em uma forma untada e polvilhada com farinha. Em seguida, polvilhe açúcar sobre a massa e asse por aproximadamente 30 minutos.

A Memória Olfativa Transportada noTempo

Nas histórias das famílias negras, a cozinha ocupa um espaço central nas  reuniões, decisões importantes, nas cantorias, nas rizadas e brincadeiras. A cozinha, como descreve Nina Horta (2001) “ é também um lugar de memórias, de experiências, de conversas. Nem só de pão vive o homem”. Horta (2001)

Nesses espaços, a força feminina mostra-se presente e por meio do trabalho de milhares de mulheres, as famílias foram e são alimentadas, assim como as memórias culinárias são guardadas.

As receitas, que são passadas de geração a geração, perpetuam os saberes e sabores de uma cultura alimentar regada por orações e canções que repassam em cada canto da cozinha um valor ancestral. 

Em muitas dessas cozinhas os fogões de barro, artesanais eram acesos quase sempre à lenha. Mesas, cadeiras, pias, colheres de pau, cuscuzeiros, pilão, mão de pilão, recipientes para organizar os alimentos ou mesmo para garantir a sua conservação são feitos pelas mãos habilidosas dos artesãos ou artesãs. Nesse processo, prevalece a ancestralidade, o momento de aprendizagens e saberes.

A partir das narrativas de mulheres negras, que foram criadas e moram na cidade atualmente, foram reconstituídas as estratégias na arte de cozinhar adotadas pelas famílias negras saltenses, revelando um universo em que culinária e religiosidade se imbricam, e se expressam por meio da devoção aos santos, das orações de agradecimentos, das cantigas e receitas trazidas na memória. 

Referências:

CERTEAU, Michel; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2, morar, cozinhar. Petrópolis: Artes de Fazer, 1996.

HORTA, Nina. Não é sopa: crônicas e receitas de comida. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2001

MARIA Conceição Oliveira CADERNOS DE RECEITAS: memórias, identidade social e racial. –
Interdisciplinaridade. Revista do Grupo de Estudos, 2014 – revistas.pucsp.br

PARK, Margareth Brandini.(org). Diversidades, Memórias e Culinárias. Adonis,2011.

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